Verdades que poderiam não ser ditas

adailton moura
3 min readDec 29, 2020

Interior, do interior, de São Paulo. Isolado do mundo. Os eucaliptos dominam o ambiente. Plantações de laranja e soja podem ser observadas. Mas quem reina é o eucalipto.

— Agora quem tá dominando tudo aqui são os chineses — diz um dos residentes na área — Estão comprando as fazendas e colocando todas as construções pra baixo. Querem ver nada em pé. Só eucalipto. Algumas eles arrendam, mas querem comprar tudo.

— Mas e a concorrência?

— Não tem como competir com eles. É difícil. Se uma empresa paga 1500 por alqueire, eles pagam 3500. Quem vai cobrir esse preço? E todo lugar que eles compra, abrem buracos e colocam tudo abaixo. Já vi sede de fazenda bonita demais ser desmanchada da noite pro dia.

A vida é simples. Pessoas humildes. Os Cachorros são muitos. Alguns cavalos. Um porco. Vários gatos. E gado. Muito gado. Dois dias antes do Natal uma das vacas da criação foi para o abate. “Carne fresca” na panela, no fogão, e na grelha, para comemorar com os visitantes da cidade grande o nascimento de Jesus.

— Vou comer essa carne não. Não é igual carne de açorgue — disse a vó.

— Mas essa carne tá fresca, mãe. É melhor que do açougue.

— Não quero comer não. Quando o estômago fala a gente tem que respeitar.

Corpo e mente funcionam sincronizados. Se colocar na cabeça que algo pode fazer mal, é melhor nem direcionar à boca. Isso também acontece com verdades que nem precisaríamos saber.

— Todas essas frutas bonitas que você compra no mercado estão cheias de veneno — diz um agricultor — Como as pessoa vão pela boniteza, os produtor tacam veneno pra que elas cresçam rápido e não sejam atacadas pelas pragas.

— De saudável não tem nada

— Nada! Por isso, que surge umas doença que ninguém consegue saber de onde vem. Por exemplo, o pepino demora 40 dias pra crescer. E tem um veneno, forte, que tem que ser jogado a cada 90 dias, mas ninguém quer perder, então, jogam a cada 30 dias. E esse veneno mata até a 3a geração. Ninguém quer sair perdendo. Vou falar uma coisa procê: tudo tem veneno… no tomate então, nem se fale.

É para pensar 2, 3, 4 vezes. Ou fechar os olhos, e seja o que Deus quiser. O mesmo acontece quando você descobre das escolhas políticas de quem mora no campo, e os motivos de escolher quem escolheu. O medo dos comunistas é constante. A possibilidade dos chineses comprar todas as terras e dar um fim às raras moradias amedronta ainda mais. A falta de segurança, invasões, tiros, disputas de terra por grupos rivais e roubos (inclusive de uma porteira), fez com que o 17 fosse apertado com gosto.

— O Borsonaro tem seus lado ruim, mas tá fazendo coisa muito boa pra gente aqui. Antes invadiam a nossa propriedade e não podia fazer nada. Até a polícia chegar aqui já tomaram tudo. Agora não, eu mesmo posso defender o que é meu. Mai não gosto de mexer com arma, só se for necessário. Agora aqui tá mais tranquilo. E se um pião destrói esse eucaliptos aí, quem tem prejuízo é o governo, porque tem que pagar pra empresa e ainda não recebe sua parte.

Dizer o quê? Nada. Em algumas situações, ouvir é a coisa mais sábia a se fazer. Pela quantidade de ouvidos, tudo leva crer que a audição é mais importante que a “falação”. Como cantava os Originais do Samba: “falador passa mal”.

*talvez tenha viajado nas ideias, mas a intenção foi essa mesmo.

**as conversas são reias

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adailton moura

jornalista. autor do livro “A Indústria da Música Gospel”. txts no @ RAPresentando, Sounds and Colours, TAB UOL, AUR, Rapzilla, Per Raps, Bantumen, Gospel Beat.